22 de março de 2003

PAGANISMO II

Por Claudio Crow Quintino:claudiocrow@uol.com.br
1.
Paganismo e Neo-Paganismo
Estive anotando algumas idéias que me surgiram recentemente e, após ler algumas das últimas mensagens postadas na lista (OUTRA lista, n. do A.), fui levado a algumas reflexões que julgo importantes, as quais gostaria de compartilhar com os demais participantes da lista.
Em primeiro lugar, tenho notado uma grande confusão quanto à historicidade dos fatos discutidos em algumas msgs. A começar pela noção de PAGANISMO E NEO-PAGANISMO.
Nenhum de nós, petencentes a tradições como Wicca, Druidismo, Stregheria e outras facetas da Religião da Deusa, poderia em sã consciência se intitular Pagão - pelo simples fato de que o Paganismo, o culto do "pagus" (Campo, Natureza) originário da Europa, deixou de existir há muito tempo, salvo em um ou outro rincão isolado. Todos sabemos que o Druidismo existente hoje é uma re-leitura dos conhecimentos druídicos originais. Sabemos também que a Wicca possui inflências Celtas, mas está muito longe de ser o mesmo que Religião Celta.
Assim, para efeito de diferenciar um do outro, acredito que o ideal seria utilizarmos os termos pagão e neo-pagão. Para facilitar, contudo, muitos utilizam apenas "pagão", independente da época de que se esteja falando. Mais importante que o termo, porém, é o tema. E creio que É VITAL QUE SAIBAMOS DIFERENCIAR AS TRADIÇÕES MODERNAS DAS ORIGINAIS.
Essas tradições originais chegaram até nós de diversos modos: pela preservação de costumes populares, pelo estudo de sociólogos, lingüistas, arqueólogos, folcloristas, etc., através do sincretismo religioso, pelos tais rincões que preservaram de modo até certo ponto puro o conhecimento e os mistérios das tradições antigas.
Baseados nessas informações, alguns indivíduos ou grupos de pessoas resgataram e reacenderam a chama dos antigos cultos pagãos, dando origem a tradições Neo-pagãs - ou seja, uma nova forma de paganismo, inspirada nas antigas tradições, mas sem vínculo direto com elas.
Tomemos o exemplo da Wicca, a mais brilhante e conhecida forma de Neo-paganismo. Quando da minha última conversa com a Marcia Bianchi aqui em São Paulo, lembro-me que concordamos que a Wica (com um "c" só - o segundo veio depois) apresentada por Gerald Gardner tinha pouco a ver com o que ela representa hoje.
Costumo dizer que os bons Wiccanos hoje reconhecem os méritos do Sr. Gardner como compilador das antigas tradições, mesclando elementos de diversas tradições na formação da Wicca como a conhecemos. Mas a Wicca, por seus méritos intrínsecos, livrou-se de seu criador, e hoje é muuuuito maior do que ele.
Para efeito de comparação, vejamos o caso de Thelema. É impossível falar de Thelema sem falar de Crowley. Mas hoje dá para falar de WICCA sem falar de Gardner.A Wicca adaptou-se à sua época, e hoje é definitivamente uma Religião, com crenças e filosofias próprias. Digo "hoje" porque antes não era - era apenas um "sistema de magia", como alguns adoram rotular.
A Wicca hoje é então uma Religião, que oferece aos que a procuram uma ótima oportunidade de compreender seu papel no universo, compreender que fazemos parte de um todo, compreender que a vida já é um ato de magia, e que, muito mais do que um celebrador de rituais ou um lançador de encantamentos, o verdadeiro Wiccano é um adorador da Vida - ou assim deveria ser. Mas disso falarei no próximo e-mail...
2.
- Sobre Wicca e discussões na lista.
Fico entristecido quando vejo discussões na lista motivadas pela defesa de pontos de vista pessoais quanto a aspectos MERAMENTE ACESSÓRIOS da Wicca. O tamanho de um athame, o material de seu bastão, a cor das vestes rituais (Ah! Isso dói...), Roda do Sul ou do Norte - isso são temas que serão eternamente revisitados, O QUE É SAUDÁVEL, POIS NINGUÉM É DONO DA VERDADE. Deve-se discutir tais temas, porém, com a mente livre de quaisquer doutrinamentos.
Afirmar que "é assim, tem que ser assim, por que comigo (ou no meu círculo) éassim" é derrubar todos os preceitos básicos da Wicca. Ok, também não pode haver um excesso de liberdade, para que haja coerência.
Mas afinal, quais são os preceitos básicos da Wicca? Semanas atrás, a Marcia descreveu muito bem, como de costume, o que deveria caracterizar um Wiccano. Mas nós sabemos que existem inúmeras, infindáveis tradições Wiccanas diferentes, muitas delas oferecendo conjuntos de crenças diferentes, por vezes contrárias entre si. Todas elas cultuam os Divinos Feminino e Masculino, todas elas se integram aos ciclos da natureza, mas variam nos detalhes.
Por que? Porque existe a noção de liberdade - e essa liberdade funciona assim: se respeito esses preceitos básicos, eu posso celebrar um ritual nu ou trajando uma túnica de algodão puro, ou ainda uma capa de seda roxa com pedras preciosas incrustadas... posso abrir o círculo começando pelo norte, ou pelo leste, ou ainda pelo Sul-sudoeste... Posso traçar o círculo mágico com um athame de prata importado, ou com uma faca inox de pesca, ou com a saudosa faquinha de Bolo Pullmann... Posso celebrar a Roda do Ano de acordo com o Hemisfério Norte, ou o Hemisfério Sul ou ainda a Roda da Linha do Equador, ou a Roda Quadrada, ou a Quadra Rodada, ou o Triângulo do Sapo Leitoso... o que importa? Para quem isso é importante?
Afinal, por que clebramos a Roda do Ano? Não é a Roda um método de contato com as energias da Natureza, com os Divinos Masculino e Feminino? Não é um modo de conhecermos e honrarmos os Deuses da Terra?
E acaso esses deuses vão se ofender, vão nos punir se fizermos deste ou daquele modo? Não creio. Creio sim que eles se emocionem, se engrandeçam, com a nossa simples lembrança, com nosso amor por eles - amor sincero. Amor autêntico, daqueles que vêm de dentro mesmo, rasgando tudo. Para mim, a sensação de cultuar os deuses antigos é igualzinho àquele arrebatamento que sentimos ao ver, ao lembrar, ao falar da pessoa que amamos. Sabe aquele pueril friozinho na barriga que dá quando vemos a pessoa de que gostamos? Então, os
deuses para mim são assim!
Acho que o grande erro é fazer por fazer. Digo e repito que os rituais são como sexo (e afinal, temos lá o grande rito, não é?) - Alguém já tentou transar sem sentir tesão? (Dizem que as mulheres até conseguem fingir - mas eu sempre achei que deve ser uma m... de situação...) Se não houver tesão pelo ritual, não vai rolar! Imaginem transar pensando que o lençol tá amarrotando, ou que o cabelo tem que ficar penteado, ou que o suor pode desfazer sua maquiagem... Mesma coisa num ritual. Se a pessoa estiver mais preocupada com a "liturgia", com a cor disto ou daquilo, com o tamanho disto ou daquilo, com a direção disto ou daquilo, não vai rolar!!!! A parte fundamental da estória toda é: ame os deuses! Reconheça o Divino na Vida! Celebre os deuses e a Vida, não só nos rituais, mas em cada dia, a cada momento de sua vida!!! O resto é resto...
Voltando às discussões sobre os temas acessórios da Wicca, temos que lembrar que muitas das chamadas tradições "ecléticas" da Wicca utilizam deuses de diversos panteões em seus rituais. Deidades Celtas, Gregas, Egípcias, Sumérias, são postas lado a lado em altares e preces, rituais e orações... será que isso é legal? Veremos no próximo e-mail.
3.
Muitos autores Wiccanos afirmam que "todas as Deusas são aspectos de uma só Deusa, assim como todos os Deuses são faces de um Deus único."
Isso justificaria a opção comum de muitos Wiccanos em celebrar seus rituais, montar seus altares, etc, utilizando deidades de panteões diferentes. Claudiney Prieto, em seu livro "WICCA: A RELIGIÃO DA DEUSA", alerta para os riscos de se evocar deuses de panteões diferentes, ou ainda deuses que seriam rivais em um mesmo panteão. Ele ainda afirma que prefere cultuar um Deus e uma Deusa sem nomes específicos, valendo-se apenas de seus temas, suas facetas - ou seja, "A Anciã," "O Senhor da caçada", e por aí vai.
Pergunto - ou melhor, proponho que vocês se perguntem, e respondam para si mesmos - qual o caminho mais indicado? Por ser a Wicca - e quase todos os Caminhos pagãos e neo-Pagãos - uma religião que pede respostas íntimas, equilibradas igualmente nas emoções e na análise racional do tema, a resposta é PESSOAL.
A minha resposta a tal pergunta seria a seguinte: na Wicca, a união de diversas deidades distintas se justifica pelo culto aos chamados "arquétipos" da Deusa e do Deus. Todos seriam um, todas seriam uma. Se é assim, então não existe a menor necessidade de se individualizar o culto a este ou aquele deus individual, a este ou aquele panteão. O que vale mesmo é a idéia central, a noção básica. Isto está perfeitamente de acordo com a Wicca e com suas práticas, e mais uma vez parabenizo o Claudiney pela coragem em espor a sua visão pessoal em seu livro. DENTRO DO CONTEXTO DA WICCA, isso é perfeito. Isso até justificaria a inversão da Roda do Ano, pois se eu lido com as forças masculina e feminina presentes na natureza, sem lhes dar nomes, eu interajo com o que vem acontecendo ao meu redor, livre das influências das conhecidas egrégoras das deidades.
Contudo, existem outras correntes pagãs, também voltadas ao culto aos deuses antigos, como o Neo-Druidismo, o Reconstrucionismo Celta e outras, as quais embasam suas práticas mágico-religiosas na recuperação dos ritos ancestrais às respectivas deidades. Nesses casos, é impensável para um
reconstrucionista celta, por exemplo, evocar em um ritual Inanna, a deusa mãe Suméria, ou o hindu Çiva... isto porque essas correntes pagãs honram seus deuses como forças individuais, e não como facetas de um mesmo deus. Um exemplo que uso sempre é o seguinte:
eu nasci no Brasil, o que faz de mim um brasileiro. Eu sou do sexo masculino, o que faz de mim um homem; eu sei escrever, o que faz de mim um
alfabetizado. Então, por reunir esses três itens (brasileiro, homem, alfabetizado) eu, Garrincha e José Bonifácio somos a mesma pessoa... ora, possuímos alguns pontos em comum, mas não somos uma única pessoa! Estamos inclusive separados pela época em que vivemos - sem contar que dois já morreram (garanto que eu não!).
Então, o fato de um determinado deus ou deusa possuir um tema em comum com outro deus ou deusa de um pantão diferente, não faz necessariamente deles um único deus ou deusa!
Se se opta pelo culto a deuses individuais, devemos respeitá-los como tal - como indivíduos! Se por outro lado optamos por cultuar os Princípios Divinos Masculino e Feminino, como creio seja o caso da Wicca, fica tudo mais simples e COERENTE se não se dão nomes individuais a essas forças.
Para concluir este tema, quero comentar um ponto delicado, mas que merece consideração por parte da lista. Se todas as Deusas são uma Deusa e todos os Deuses são um único Deus, o que me impediria de montar um altar Wiccano com de um lado uma imagem de Maria ("A Rainha do Céu", a "Mãe do Deus", entre outros nomes que foram primeiro atibuídos à egípcia Ísis...) e do outro a de Jesus (o filho da Senhora e do Deus, o Pastor, título de Dumuzi, a Criança Prometida)? Não estou dizendo que isso é ou não possível, só estou puxando a reflexão de vocês!
Dizer que o cristianismo é incompatível com a Wicca porque a Wicca resgata valores pagãos opostos ao cristianismo é um erro grave. Pior ainda é usar o já malhado papo da Inquisição... Veremos o porque no próximo email...
4.
Então vamos lá. Após analisar, na última mensagem, as visões Wiccanas dos deuses, perguntei: "se todas as Deusas são uma Deusa, e todos os Deuses são um Deus, como afirmam os pensadores Wiccanos, por que não utilizar uma imagem de Maria e outra de Jesus no altar, uma vez que ambos são releituras das antigas deidades da Terra?" Terminei dizendo que alegar que o cristianismo não tem nada a ver filosoficamente com o Paganismo Wiccano é um erro - basta ver o quanto em comum os mitos Osíricos, Mitraicos e Dionisíacos têm a ver com a estorinha do JC, ou o quanto Maria foi influenciada por Ísis e Cibele - só para citar alguns exemplos. Também é errado afirmar que foi por causa da Inquisição que o Paganismo perdeu força. Vejamos porque.
Os Neo-pagãos, em sua esmagadora maioria, adoram citar a Inquisição como o momento em que o paganismo quase foi extinto, sendo salvo graças a umas poucas abnegadas criaturas que desafiaram as fogueiras em nome de sua fé.
Isso é verdade - mas não toda a verdade.
Podemos começar lembrando que o tribunal da Santa Inquisição, a cargo dos Monges Dominicanos, foi criado pela Igreja de Roma no séc. XI, para suprimir a heresia Cátara, um movimento gnóstico cristão que se expandia com avassaladora rapidez no sul da França. Ou seja, cristão contra cristão... depois, obviamente, a Ordem Dominicana gostou da brincadeira, e o fervor religioso deu origem ao terror. Muitos pagãos certamente perderam suas vidas nas mãos dos torturadores e carrascos, mas temos que lembrar que a maioria das vítimas das fogueiras não eram pagãos e sim judeus (sempre eles, perseguidos...).
Voltando aos pagãos, temos que lembrar que o paganismo há muito havia sido banido pela igreja (e pela própria população, sim, senhores). Um pouco de história:
as crenças dos Celtas, conquistados pelos Romanos no continente europeu e na Grã Bretanha (mas não na Irlanda), foram absorvidas ou obliteradas pela religião romana, que já vinha absorvendo várias crenças de outros povos - um exemplo claro é o culto dos legionários romanos ao deus persa Mithras, ao mesmo tempo em que cultuavam a gaulesa Epona. Outro exemplo vem do próprio Constantino, o célebre imperador que converteu o Império Romano ao cristianismo. Ele originalmente adorava o deus Sol Invictus, também de origem médio-oriental e até certo ponto similar a Mithras. Ora, onde andavam Minerva, Vênus, e todas as outras deusas Romanas? Já havia muito tempo que elas não eram mais cultuadas com a mesma força por Roma. Aliás, diga-se de passagem, uma das deusas mais populares em Roma pouco antes da "conversão" de Constantino era a egípcia Ísis... para se ter uma idéia do fervor com que Ísis era cultuada em Roma, o legislador romano Apuleius escreveu um texto em bom latim no qual Ísis diz: "Eu sou a Natureza, a Mãe Universal, senhora dos elementos, criança primordial do tempo, soberana de todas as coisas espirituais, Rainha dos Mortos, Rainha também dos Imortais, a única manifestação de todos os deuses e deusas que existem." Isso quase dois milênios antes da Wicca!
Voltando: apesar do culto a Ísis, Roma já havia perdido há muito o seu vínculo com o "Pagus", com as deidades da Natureza. Afinal, é bom que se deixe isto bem claro, o patriarcado assumiu papel determinante nas religiões antigas já na transição da Idade do Bronze para a Idade do Ferro - muito tempo antes de Roma constituir seu Império...
A renomada historiadora Marija Gimbutas afirma que o paganismo matriarcal começa a perder energia com a chegada de duas ondas migratórias simultâneas à região da Mesopotâmia e adjacências - a dos indo-europeus e a dos semitas. Ambos os invasores cultuavam deuses do Céu, do Trovão, da Guerra. (Não surpreende, portanto, que os hebreus, herdeiros dos semitas, tivessem tão pouco respeito pela natureza - como mostra o Torá, o Velho Testamento - Ide, e SUJEITAI as criaturas da terra... [Gênesis]). O que surpreende é que os indo-europeus, tão violentos e cultuadores de deuses Celestes semelhantes, tenham posteriormente originado os Celtas. Isso prova que, quando os celtas surgiram da fusão das culturas locais da Europa
com a cultura indo-européia, eles mantiveram muitos traços dos habitantes autóctones. Ainda bem!)
Voltando: essa mudança do matriarcado, do culto à Natureza, para as religiões patriarcais, qua adoram um Deus distante, aconteceu em tempos diferentes mas em quase todas as civilizações. Primeiro os Sumérios, Babilônios, Assírios, Cretenses - depois Gregos, Romanos e os demais, todos esses povos alteraram suas mitologias e seus cultos. Deixaram de adorar uma Deusa Mãe e seu filho/amante e passaram a cultuar um Deus soberano, normalmente guerreiro - reflexo da
sociedade de então, que passava a ser dominada por uma casta de reis guerreiros.
Falei tudo isso para chegar a um ponto: por mais que soe estranho afirmar isto, a Inquisição tem bem pouco a ver com o fim do Paganismo, pelo simples fato que o paganismo já estava praticamente morto quando da Inquisição. Isto porque séculos antes, quando os Romanos adotaram o cristianismo como religião oficial do Império, eles já haviam massacrado os antigos cultos à Terra - não só dos celtas, mas também os deles próprios. Os templos pagãos de Roma foram fechados, alguns inclusive destruídos. O Templo de Ísis em Roma não fugiu à regra. Todos agora voltavam sua atenção ao culto a um Deus Celeste e a seu filho.
Mas o controle romano não era assim tão perfeito, e nos pontos mais isolados do Império os cultos Pagãos enfraqueceram mas jamais desapareceram. Com a queda do Império Romano, o controle sobre a população desapareceu, e quem passou a exercer influência foi a Igreja cristã... de Roma! Seis por meia-dúzia... mas os primeiros anos do cristianismo são muito interessantes, pois existiam muitas correntes diferentes de cristianismo, com muitos pontos em comum, mas muitas diferenças também. Chegou-se a um ponto em que ninguém concordava com ninguém, e todos defendiam o seu cristianismo como o real, o verdadeiro. Algo muito parecido com o que o Paganismo vem vivendo hoje. Por exemplo: uns afirmavam que Cristo era filho de Deus, outros que ele era o próprio Deus, outros mais que ele era apenas um profeta... para se ter uma idéia, só se chegou a um consenso sobre a condição do JC no Concílio de Nicéia, quando POR VOTAÇÃO (!!!), decidiu-se que Cristo era "o filho de Deus"... tomara que o paganismo pare de discutir bobagens do gênero e perceba o risco que corre. Afinal, no caso do cristianismo, a facção que saiu fortalecida foi justamente a mais tirânica - a Igreja de Roma... foi ela que patrocinou, séculos depois, os violentos ataques às heresias, as cruzadas, a Inquisição. Tudo para impor a SUA versão, a SUA doutrina... QUE ISSO NÃO SE REPITA ENTRE NÓS!
Mesmo assim, algumas formas de paganismo sobreviveram ao cristianismo, principalmente na Irlanda, que nunca foi romanizada e só foi cristianizada no séc. IV - e mesmo assim, desenvolveu um cristianismo todo diferente, mesclando muitas das tradições pagãs locais.
(Tanto é que, se hoje podemos celebrar Samhain (palavra irlandesa - Samh (verão) + Fuinn (fim), ou seja, fim do Verão), se hoje conhecemos os mitos de Brighid, Dagda e Lugh, devemos agradecer aos primeiros monges cristãos da Irlanda, que transcreveram os antigos cultos e lendas irlandesas!)
O problema é que na maioria dos casos, principalmente no continente europeu, o paganismo se resumia a práticas rituais com pouco ou nenhum conteúdo filosófico. Mantinham-se as tradições, mas perderam-se os Mistérios. E rituais sem filosofia não passam de "simpatias," de FOLCLORE.
Por isso, visando a dissipar dúvidas como estas, que assolam a maioria dos pagãos por aqui, é que me dispus a escrever "A RELIGIÃO DA GRANDE DEUSA". Por isso também é que queimei minha pestana em horas preciosas de um feriado para escrever estes textos. É para isso que creio que existam listas como esta. Assim, podemos discutir aspectos mais profundos, REALMENTE importantes do neo-paganismo no Brasil, e buscar conhecer mais um pouco da filosofia que abraçamos. Sem esse conhecimento, qualquer prática ritual não passa de
superstição.
E com esse conhecimento, bobagens como "A Wicca surgiu no Neolítico e é a Religião dos Antigos Celtas", ou "a Inquisição é responsável pelo fim do Paganismo" deixam de ser repetidas a esmo por pessoas que não pesquisam a fundo a sua própria filosofia.

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